FHC, Gabeira e Randolfe criticam excesso de partidos e defendem maior participação cidadã
Para a segunda mesa de debates do seminário “A Política em Crise: como virar o jogo?”, foram convidados o senador Randolfe Rodrigues (REDE/AP), o ex-deputado federal Fernando Gabeira e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que falaram sobre reforma política, Operação Lava Jato e democracia direta.
Para o senador Randolfe Rodrigues, as reformas aprovadas até agora não mudaram a estrutura do sistema político brasileiro. “A mudança mais importante foi a proibição do financiamento privado de campanhas, no ano passado, mas a iniciativa foi do Supremo Tribunal Federal, não foi da classe política.”
Ele defendeu a redução da quantidade de legendas a partir de uma reforma de todo o sistema político. “Ninguém tem condições de governar com um Congresso que tem 28 diferentes partidos. O país tem 35 partidos registrados e outros tantos tentando obter o registro de olho na divisão do fundo partidário. O interesse dos partidos não pode ser maior que o interesse do Brasil.”
Jabuticaba
Randolfe também se posicionou favorável ao fim da reeleição e à redução do número de parlamentares no Congresso Nacional. Segundo ele, a composição atual é uma herança da ditadura militar, estabelecida por decreto no pacote de abril de 1977, no Governo Geisel. “A composição da Câmara dos Deputados é anacrônica, não corresponde à proporcionalidade de representação dos estados.”
Em sua fala, Randolfe defendeu ainda o fim do foro privilegiado aos políticos. “É como a jabuticaba, só acontece no Brasil. Hoje são 32 mil autoridades brasileiras com foro privilegiado. Não existe isso nos outros países”, afirmou.
Partidos exauridos
O ex-deputado federal Fernando Gabeira também defendeu uma profunda reforma no sistema político brasileiro, mas acredita que a mudança só virá com uma forte participação da sociedade.
“Quem está no poder se sente confortável com a situação atual e não tem interesse em mudar. Só com a participação efetiva da sociedade é possível provocar as mudanças. Foi assim com o Ficha Limpa e deverá ser assim com a questão do fim do foro privilegiado, por exemplo.”
Gabeira, que defende o parlamentarismo e o voto distrital, considera que os partidos estão exauridos em termos de debate ou de ideias e hoje só se pautam pela disputa eleitoral. Ele acredita que a Operação Lava Jato vai provocar impactos ainda maiores na política brasileira.
“A perspectiva é sombria. A vida partidária, ideológica, tal qual sonhamos no passado, hoje é só um fantasma. As últimas eleições mostraram o distanciamento entre a população e os políticos. Se não houver um processo de revitalização da política, estaremos sujeitos a eleições muito complicadas em 2018, marcadas pelo confronto de personalidades e não de ideias e propostas para o país.”
Outro momento
Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a desconexão da política com a sociedade é um fenômeno mundial. Ele avalia que a sociedade mudou, hoje é altamente conectada e diversa, mas o sistema político não está conseguindo processar as demandas da sociedade, com redes e conexões dinâmicas e fragmentadas.
“O Brasil tem que enfrentar este outro momento do mundo e da sociedade conectada, que envolve a eleição de Trump, os conflitos da Síria e a economia da China. É preciso olhar para nossas fragilidades e buscar o que nos une. Há uma intenção na sociedade que não foi captada. É preciso vocalizar isso. O Brasil precisa de tempo para reconstruir sua base social e se preparar para este outro momento.”
Ao final do seminário, o diretor executivo da RAPS, Marcos Vinícius de Campos avaliou que as discussões foram muito ricas e que levam a uma profunda reflexão por parte do coletivo de sua rede de lideranças políticas, qualificando ainda mais os debates de uma agenda que busca construir um projeto de país.
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