Em encontro online realizado pela RAPS em parceria com a Fundação Fernando Henrique Cardoso (FFHC) na segunda-feira (15.6), especialistas debateram os principais desafios para a implementação de um plano de recuperação econômica pós-pandemia centrado na sustentabilidade. O evento foi mediado por Mônica Sodré, diretora-executiva da RAPS, e contou com a presença do ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, da diretora do WRI-Brasil, Rachel Biderman, do Líder RAPS e Senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP), e do cientista político Sergio Fausto, superintendente da FFHC.
Houve consenso entre os participantes de que não há contradição entre recuperação rápida e recuperação sustentável. “Não podemos construir a nossa retomada econômica com base nos paradigmas do passado”, defendeu Biderman, citando evidências de que economias verdes são mais rentáveis e vantajosas mesmo no curto prazo.
“Há muitas oportunidades de investimento para o país voltar a crescer rápido e, ao mesmo tempo, construindo uma nova economia, mais verde”, ecoa Joaquim levy, que atualmente pesquisa o tema na Universidade de Stanford (EUA). Entre as oportunidades de investimento, ele cita a ampliação das energias renováveis – sabidamente mais baratas – como o gás natural e o crescente campo do hidrogênio verde, além da possibilidade de movimentar o setor de infraestrutura com capital nacional por meio de obras que ampliem o saneamento no país, desde que com mecanismos de compensações ambientais claros.
Para os participantes, o Brasil tem uma vantagem evidente na adoção de uma economia de baixo carbono, pois a matriz energética que sustenta nossa economia não é baseada em combustíveis fósseis. Claro, há espaço para adaptarmos nossas fontes de energia, principalmente no que diz respeito ao transporte. Contudo, diminuir nossa emissão de CO2 de maneira significativa não demanda mudanças estruturais na nossa economia, e sim um compromisso concreto com a redução do desmatamento – que seguiu aumentando durante a pandemia.
Uma batalha narrativa pelo desenvolvimento sustentável
Para Sergio Fausto, há também uma dimensão de estratégia de comunicação entre os desafios que se colocam para a retomada econômica sustentável. “Precisamos traduzir esse debate da sustentabilidade para o eleitor comum, e tangibilizar como uma recuperação verde poderá gerar emprego para a massa da população. Precisamos fazer a conexão entre sustentabilidade e geração de emprego.” A lógica é simples: somente com os votos da população em políticos comprometidos com a sustentabilidade é que haverá vontade política em torno desse tema.
“O Brasil precisa de um Congresso forte [para a recuperação verde acontecer]”, concordou Rachel Biderman. Ela também reconhece que há uma batalha narrativa, e que o lado da sustentabilidade está perdendo. “O discurso muito complexo e difícil da turma da sustentabilidade tem que ser traduzido em jargão popular, temos que mostrar para o eleitor que o que estamos propondo é viável”, explica.
O senador Randolfe Rodrigues, que reside no Amapá, conhece de perto a realidade da região Amazônica e concorda com a importância de uma reformulação narrativa. “Hoje, para muita gente que vive na Amazônia, é muito mais fácil ser assimilado o discurso da devastação do que o do desenvolvimento sustentável”, diz. Ele cita o conceito de Amazônia 4.0, do climatologista Carlos Nobre, que propõe um modelo de exploração econômica sustentável da floresta Amazônica, que não desmata e ao mesmo tempo gera riquezas para a população local e para o país.
O Senador, hoje, é uma das vozes no Congresso que atua na defesa de uma agenda da sustentabilidade, e apresentou emenda à proposta de Reforma Tributária que tramita no Senado para promover a economia de baixo carbono por meio de mecanismo que gera uma redistribuição dos tributos arrecadados para municípios que conservam o meio ambiente e adotam atitudes sustentáveis.
É esperado que os marcos legais e regulatórios e as reformas, que são considerados estratégicos para a retomada econômica sustentável, entrem na pauta do Congresso a partir do segundo semestre deste ano. Ainda assim, é preciso, como reforça o economista Joaquim Levy, envolver o setor privado no esforço. A realidade é que, na corrida pela adaptação a uma economia verde, muitas empresas brasileiras já estão passos adiante do próprio Legislativo. “Empresas têm se manifestado publicamente no sentido de reafirmar seus compromissos com a sustentabilidade e a redução de emissão de carbono”, explica o ex-Ministro.
Resta que o parlamento e o governo sigam de forma afirmativa na mesma direção, começando pela redução imediata do desmatamento brasileiro – uma meta já prometida pelo vice-presidente General Hamilton Mourão, que lidera o recém-criado Conselho da Amazônia. Aqui na RAPS seguiremos trabalhando junto a parceiros na promoção de debates e articulação de esforços para que o Brasil acompanhe o mundo no movimento de recuperação econômica verde.
Assista ao debate completo:
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