A cobrança feita por grupos de renovação política por mais democracia interna nos partidos e pela diminuição do poder das lideranças partidárias parte de um diagnóstico correto, mas não leva em conta que nosso modelo de democracia exige liderança centralizada para que as siglas organizem sua atuação parlamentar. A análise é do cientista político e membro do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Fernando Guarnieri.
Doutor em Ciência Política e especialista nas áreas de competição política e partidos políticos, Guarnieri é um dos convidados do seminário “Desafios da democracia no Brasil: inovação, participação e representação num mundo hiperconectado”, que será realizado pelo Estado em parceria com a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) no dia 4 de setembro, no Senado Federal, em Brasília.
“As oligarquias partidárias têm de ter algum limite, mas o que os movimentos de renovação têm de refletir é até que ponto essa forma enrijecida de partido não é consequência justamente do jeito como funciona nossa democracia”, afirma. Esse fenômeno, para o professor, não é exclusivo do Brasil. “No mundo inteiro há vários exemplos de partidos que têm dono.”
Guarnieri afirma que a crítica parte de uma ideia de partido cujo papel seria basicamente de representação, de fazer a ligação entre o eleitorado e o Estado. “Mas os partidos surgem com a necessidade de organizar o trabalho no Legislativo, uma maneira de conseguir formar maioria para resolver problemas que surgem dentro dos Parlamentos”, afirma. Para Guarnieri, os partidos precisam ser capazes de formular estratégias e fazer alianças. “E tudo isso exige lideranças fortes.”
Tendo a hiperconectividade como tema central, o seminário tratará, entre outros assuntos, dos desafios enfrentados pela democracia em tempos de redes sociais, fundamentais no resultado de eleições ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Para Guarnieri, o problema é o risco de as redes serem usadas como instrumento de manipulação. “Isso não era tão bem conhecido e começou a ser estudado muito recentemente”, diz.
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