“Eleições 2020: Campanhas diferentes para Brasis diferentes”. Esse foi o tema do painel promovido pela RAPS durante o Encontro Anual, realizado no último dia 30 de novembro, em São Paulo (SP). O debate reuniu especialistas e lideranças políticas diversas, oriundas de cidades pequenas, médias e grandes, para discutir como equilibrar os diferentes canais de comunicação na mobilização do eleitorado de acordo com cada realidade.
O painel abordou as possíveis estratégias de campanhas diante de uma sociedade cada vez mais conectada por meio da tecnologia, mas que não descarta as mídias tradicionais (rádio, televisão e veículos impressos) e muito menos as ruas. Participaram do debate o autor, pesquisador e colunista do Valor Econômico, Bruno Carazza; a Líder RAPS, liderança comunitária e Assessora Parlamentar de Primeira Infância, Thais Ferreira; o Líder RAPS e deputado federal Vinicius Poit (NOVO-SP); e a Líder RAPS Raquel Lyra (PSDB-PE), prefeita de Caruaru (PE). O professor e pesquisador de comunicação política na UFMG, Felipe Nunes, mediou a conversa.
Estratégias para diferentes perfis
Bruno Carazza apresentou um panorama do eleitorado brasileiro de acordo com dados da pesquisa CNI/Ibope realizada em 2018, que apontou que 89% espera um político que conheça os problemas do país, 74% almeja um candidato com boa formação acadêmica, 71% deseja nomes com boa relação com movimentos sociais, 62% acredita na importância da experiência política e 55% têm preferência por candidatos que não sejam políticos profissionais. Mediador do painel, Felipe Nunes trouxe números de estudo realizado pela QUAEST neste ano: 91% das pessoas acredita na opinião de amigos, 65% confiam mais em amigos do que em especialistas e 53% já mudou de opinião influenciado por amigos.
Diante das informações que demostram a complexidade do eleitorado brasileiro, Carazza entende que as campanhas têm que ser articuladas de forma personalizada, e isso varia de acordo com os diferentes perfis dos candidatos, de seus eleitorados e das realidades locais, tão distintas no Brasil. “Estratégias virtuais não são garantia de sucesso. Materiais gráficos e corpo a corpo seguem sendo práticas muito importantes”, afirmou.
Vinicius Poit defende a necessidade de se preparar com antecedência para as campanhas, uma vez que o eleitor exige cada vez mais qualidades dos candidatos. “É importante fazer um trabalho nas redes sociais, mas não só. Vale muito também conversar com as pessoas e trocar experiências com quem ocupa ou já ocupou um cargo eletivo”, explicou.
Para Raquel Lyra, os eleitores têm reconhecido cada vez mais as campanhas que consideram a conversa olho no olho como uma prioridade. “É preciso ser transparente e trabalhar próximo ao eleitorado, ouvindo a população para a melhor tomada das decisões. Política se faz dentro da cidade, entendendo a realidade de cada uma das pessoas e mudando o local onde elas moram”, revelou.
Thais Ferreira aposta na formação de uma rede de apoio, proteção e debates como estratégia para construir um sistema político mais seguro para ela e seus iguais. “Eu me dediquei a falar com as pessoas que me cercam para que entendessem a minha realidade. E essa rede se identificou com o que sou, uma mulher e negra e periférica, e entendeu as pautas de maneira coletiva, como parte delas”, contou.
Partidos, representatividade e distribuição de recursos
A distribuição desigual de recursos para as campanhas por parte dos partidos também foi assunto do painel. Atualmente, candidatos que já possuem cargo e pertencentes a partidos maiores levam vantagem nesse quesito. “Não podemos perder de vista que as estratégias de campanha são individuais. As pessoas são importantes, mas elas são eleitas por partidos, que precisam ser aperfeiçoados e cada vez mais transparentes. É fundamental melhorar os repasses e divisões de recursos”, opinou Bruno Corazza. “Temos que trabalhar pela democratização dos partidos para que tenhamos uma lógica mais justa de distribuição de recursos para as campanhas”, completou Raquel Lyra.
Os dados de distribuição de recursos para campanhas também apontam que a corrida eleitoral é injusta de acordo com os critério de gênero e raça. A média de arrecadação de homens brancos é consideravelmente maior do que a de mulheres negras, por exemplo. Para Thais Ferreira, essa realidade torna muito mais difícil para pessoas negras, sobretudo mulheres, chegarem a um cargo eletivo. “Aliar a questão do racismo à política é um trabalho de todos. Enquanto não houver paridade racial, não teremos uma democracia de fato”, assegurou.
[ssba-buttons]Tags