Fábio Ferraz é Líder RAPS e secretário de Saúde de Santos (SP). O município não registra nenhum caso de COVID-19 até o momento, mas se prepara para tratar infectados em breve. Nesta entrevista exclusiva para o blog da RAPS, ele defende a transparência total na comunicação com a população, fala sobre as estratégias para combater o coronavírus na cidade, que conta com um comitê para enfrentamento à pandemia, e discute o papel de um gestor público nesse momento crítico. Confira:
Em Santos foi criado um Comitê de Contingência para Enfrentamento do Coronavírus. Qual a importância disso? Outros municípios devem adotar a mesma medida?
Até 19 de março, não temos nenhum quadro confirmado de coronavírus em Santos (SP), mas o número de suspeitos tem aumentado. Temos uma proximidade muito grande do epicentro da crise atual no Brasil, a cidade de São Paulo, e provavelmente teremos casos na nossa cidade e na região muito em breve.
Nós tivemos ações importantes realizadas pelos profissionais de saúde há cerca de 30 dias, desde o começo da crise em cenário mundial. Capacitamos mais de 400 servidores e instituímos o protocolo de atendimento na rede. Mas dado esse momento de expansão da doença no país e na nossa região, nós criamos um Comitê de Contingência para Enfrentamento do Coronavírus em Santos com a finalidade de ampliar as discussões com outras unidades hospitalares, públicas e privadas, além das secretarias municipais de Educação, Cultura, Esporte, que mantêm atividades com grande concentração de pessoas, e também com os principais ativos econômicos da nossa cidade, como as atividades portuárias, comércio e turismo. A ideia é ter compartilhamento de decisões e informações relevantes.
Sugiro fortemente que outros municípios adotem a mesma postura como forma de organizar toda a sociedade local a partir da criação de comitês de contingência do coronavírus.
O que recomenda a outros gestores públicos do Brasil que ainda terão que lidar com Coronavírus?
Recomendo fortemente a gestores que estão atuando ou irão atuar na crise do coronavírus que sejam absolutamente transparentes. Busquem a comunicação direta com a sociedade, colocando as ponderações de forma muito clara, as dificuldade que serão enfrentadas pela população e pelo serviço público em seu atendimento. É fundamental que busquem se cercar de profissionais da área epidemiológica, médicos, enfermeiros e profissionais que tenham reputação local para o “empréstimo” da credibilidade desses profissionais para levar uma palavra de tranquilidade para as pessoas e ao mesmo tempo sem minimizar nenhuma das dificuldades que serão enfrentadas.
É de extrema importância a estruturação da rede de atendimento, com a capacitação de profissionais e instituição de protocolos, bem como a busca por insumos, EPIs para profissionais de saúde, e insumos em geral para coleta de exames e atendimentos clínicos. No caso do coronavírus, é essencial termos UTIs, principalmente por conta dos aparelhos respiratórios que serão necessários. Há um númeroem nível internacional que indica que é preciso 2,4 leitos de UTI para cada 10 mil pessoas. Então, é necessário buscar estrutura junto ao governo do estado e federal para que se tenha esse quantitativo disposto nas cidades e regiões.
Como fazer para não criar uma sensação de pânico geral e ao mesmo tempo engajar as pessoas num esforço conjunto, sem que haja dúvida sobre a seriedade e gravidade do cenário?
Esse é um dos nossos principais desafios. Creio que precisamos utilizar uma estrutura agressiva de comunicação, no bom sentido, ocupando os espaços da mídia, ter comunicação direta por redes sociais, mas se cercando de bons profissionais da área de epidemiologia, médicos, enfermeiros, profissionais da vigilância sanitária, que emprestam sua credibilidade para que se possa trazer uma palavra de confiança para as pessoas. Penso que essa seja uma estratégia importante: ser franco, direto, transparente, ou seja, falar a verdade para as pessoas sem minimizar riscos, mas ao mesmo tempo explorando as condições positivas que se pode ter das estruturações da saúde num todo. Acho que essa pode ser a melhor forma de se trabalhar num cenário de crise como esse.
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