Todo ano a RAPS seleciona novos membros para a sua rede. O objetivo? Mapear pessoas comprometidas em atuar de forma ética e transparente, a serviço do bem comum.
Em sua missão de contribuir para uma renovação da política brasileira, a RAPS espera, de cada um de seus líderes, exemplos inspiradores, que estimulem a participação da sociedade nas decisões públicas e sirvam de exemplo para novas formas de gestão.
Hoje, o cenário brasileiro é desafiador: temos um arranjo social segregado e respaldado por uma narrativa política baseada no conflito de classes. A qualidade de nossos serviços públicos é insatisfatória e o sistema político-partidário está cada vez mais desacreditado pela população, pedindo novas alternativas.
A inovação, porém, não surge sem dedicação, coragem e criatividade, e essas são características que o Líder RAPS Pedro Henrique de Cristo tem de sobra.
Desde muito cedo, Pedro teve contato com as áreas da política e arquitetura. Seus pais, arquitetos, participaram de atos de resistência pacifica durante a ditadura militar e sempre mostraram-se preocupados com o maior patrimônio que poderiam deixar ao filho: a educação.
Essa influência da infância e juventude parece ter marcado para sempre a vida de Pedro, que trabalhou por 8 anos como designer na Officina de Arquitetura [estudio de seus pais] antes de ingressar na UFPB e se formar em administração.
Durante a faculdade, conseguiu uma bolsa do MEC e foi para a University of Leeds na Inglaterra, onde concentrou seus estudos na economia da fome. Lá conheceu as ideias de Amartya Sen, o que reacendeu sua crença nas políticas públicas e demonstrou as similaridades de desenho destas com a arquitetura. Essa união de paixões o fez perceber que a sua veia humanitária e criativa falavam mais alto juntas e que não havia atividade mais importante que a política.
A partir disso, seu engajamento social só cresceu. Ao voltar a João Pessoa (PB), sua terra natal, liderou um movimento de emponderamento das comunidades locais com foco na sustentabilidade do uso da água, a Operação Respeito [premiada pela ONU], oportunidade em que teve contato com diversas favelas da capital.
Sua atuação política sempre esteve muito ligada ao entendimento do espaço físico, devido ao background em arquitetura que adquiriu com os pais. O movimento que liderou na Paraíba despertou em Pedro o interesse em aprender mais e, então, ele se mudou para os EUA, para fazer mestrado em Políticas Públicas na Universidade de Harvard com bolsa integral.
Sua tese mostrou-se inovadora ao cruzar, em um único estudo, os temas educação, segurança pública e planejamento urbano.
Com a proposta de usar as escolas como centro de pacificação das favelas do Rio de Janeiro, ele realizou, entre 2010 e 2011, um estudo de campo em quatro favelas da cidade: Maré, Rocinha, Santa Marta e Cidade de Deus. Entrevistou 652 jovens e crianças de 7 a 15 anos, para entender como garantir seu desenvolvimento, evitar que eles entrassem no tráfico (o que ocorre por volta dos 11/12 anos) e desenvolver espaços de integração para esses jovens.
A tese, aprovada com distinção, foi apresentada ao professor Hashim Sarkis, da faculdade de arquitetura de Harvard, que propôs criar uma aula e projeto baseados no conceito resultante do estudo. O grande mote da aula seria estudar e desenvolver projetos integrando políticas públicas, ao uso da tecnologia e a arquitetura como solução de problemas sociais. Este foi chamado Harvard University School of the Year 2030@Rio de Janeiro.
A turma foi formada, Pedro deu a aula inaugural e alunos de arquitetura passaram uma semana no Complexo do Alemão para estudar e desenvolver novos conceitos de escola. Foi nesta ocasião que Pedro conheceu Caroline, hoje sua esposa e parceira em diversos projetos. O projeto no Complexo do Alemão inspirou o nascimento da escola experimental “Gente”, instalada na Rocinha pela Prefeitura do Rio de Janeiro.
Essencialmente, este foi também o momento em que Pedro, com o apoio de Caroline, retornou as origens e reiniciou o seu trabalho como arquiteto, inspirado por Mies van der Rohe, Le Corbusier e Tadao Ando, rebeldes auto-didatas do design, e influenciado pela ideia de sistemas integrados, posta em prática por Steve Jobs na Apple.
Um pouco antes, em outubro de 2011, após estudar as favelas e ter em mãos diversos dados e números, Pedro sentiu a necessidade de participar da dinâmica de uma comunidade para aumentar seu entendimento sobre os problemas, desafios e oportunidades presentes no dia a dia destas. Foi assim que mudou-se para o Vidigal.
A nova morada foi escolhida estrategicamente. O Vidigal, pela sua visibilidade, é um espaço ideal para realização de projetos piloto. Com cerca de 25mil moradores, é uma comunidade relativamente pequena (se comparada a outras favelas do Rio, como a Rocinha), a que mais interage com o asfalto e uma das que mais recebem investimento privado.
“Sintonia Perfeita”
Pedro afirma que o encontro com Caroline foi fundamental, já que as áreas de estudo e prática de ambos uniram-se de forma perfeita em prol de objetivos comuns. Ele, arquiteto talhado no estúdio dos pais e treinado em Políticas Públicas e Tecnologia, ela, arquiteta formada em primeiro lugar de sua turma em Harvard com forte interesse e trabalho prévio nessas duas áreas. Mais importante, muito amor e humor para vencer as pressões do dia-a-dia.
Juntos, eles fundaram o +D – Design com Propósito, e passaram a desenvolver um novo conceito de arquitetura, fundamentalmente baseada em três pilares: políticas públicas, espaço físico e tecnologia. Dentre seus principais projetos, está a Ágora Digital.
O que é?
A Ágora Digital nasceu a partir do cruzamento de uma série de diagnósticos: a democracia no Brasil e no mundo vive forte pressão por mudanças, devido a nova escala de acesso a conhecimento e agência resultante da tecnologia, a gestão pública brasileira está em crise; com a Copa e as Olímpiadas, o país vive um momento de exceção que motiva brasileiros a irem às ruas exigir os seus direitos enquanto atrai interesse global e, por fim, a estrutura da sociedade está baseada em um discurso de conflito de classes, que favorece elites aristocráticas e populares e também é percebido na disposição do espaço público.
Frente a estas análises, a Ágora Digital configura-se como um novo modelo de equipamento público, que por meio da integração das políticas públicas, espaço físico e tecnologia, propõe soluções aos desafios do atual cenário brasileiro.
A ideia é criar espaços físicos, e aproveitar os existentes, em todas as comunidades do Rio de Janeiro, cidade piloto do projeto, começando pelo Vidigal e espalhando-se para outras áreas, inclusive Ipanema e Leblon. “O projeto não é da favela ou do asfalto, mas sim da cidade e, futuramente, do país”, afirma Pedro.
Os espaços denominados “Ágoras Digitais” servirão como ambiente de diálogo com foco em resultados, deliberação pública com Orçamento Participativo e Democracia Direta e como complemento às escolas das comunidades. Ali as pessoas poderão se reunir para estudar (haverá bibliotecas), discutir problemas e prioridades da comunidade e encontrar um ambiente capaz de cruzar os espaços digital e físico. A ideia é emponderar a população, estimular a cultura política e assim, fortalecer a democracia direta no Brasil, país que, atualmente, encontra-se 100% baseado na democracia representativa. Espera-se que as duas formas de democracia andem juntas e que a população participe, efetivamente, de todas as decisões públicas.
“Precisamos passar da fase de falar sobre problemas para a fase de resolver nossos problemas. Devemos fazer isso com Coesão Social, que resolve o contraditório não com conflito mas com diálogo focado em resultados.”, explica Pedro.
A primeira Ágora, no Vidigal, será instalada nos próximos dois anos que, segundo Pedro, “valem por 20”, referindo-se ao momento de visibilidade e exceção causado pelos eventos esportivos que terão sede no Brasil e, ele ainda afirma, “temos que tornar o engajamento da população que vimos nos protestos pacíficos de 2013 num estado permanente de agência cidadã.”
Para viabilizar o projeto, Pedro e Carol estão em busca de parcerias primeiro com as comunidades e com o setor privado para então envolver o poder público: “Não queremos dinheiro público nesta etapa do projeto. Ele é político mas não é partidário. É sim um novo tipo de prática da democracia e da gestão pública e tem de ser de todos!”. No futuro, eles querem que governos, prefeituras e movimentos da sociedade civil se apoderem do modelo e o apliquem nos diferentes contextos do país.
Sobre a frase “Brasil, o país do futuro” Pedro diz que o futuro é agora e as mudanças devem ser feitas já! Por isso o enorme engajamento na causa e a certeza que com maior envolvimento da população, o país pode dar a guinada que tanto precisa.
“Os brasileiros reconhecem o valor e os desafios da democracia e querem mais acesso a conhecimento e participação na decisão pública. Nosso trabalho é atuar em parceria com indivíduos e organizações como a RAPS, comprometidas com essa mudança que o Brasil necessita.”
Para saber mais sobre a Ágora Digital e conhecer os outros projetos do Pedro e da Caroline, clique aqui.
Líder RAPS cria e conduz projeto piloto de inovação social
2 de abril de 2014