O mundo será mais pobre em 2050 e a América Latina será um dos locais mais afetados pelos efeitos das mudanças climáticas, com perdas médias de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2050. Essa é a conclusão do “Resilience to climate change?”, lançado pela The Economist Intelligence Unit. No Brasil, a questão do clima ainda não é uma prioridade política de gestores e legisladores, e isso será um fator adicional de pressão em uma economia com crescimento fraco nos últimos anos. Para debater essa realidade, a RAPS reuniu um grupo de especialistas para abordar o tema em várias perspectivas durante o Encontro Anual, que aconteceu em 30 de novembro, em São Paulo (SP).
Um dos destaques da programação, o painel “Os tempos mudaram: como transformar as mudanças climáticas em oportunidades econômicas para um desenvolvimento sustentável?”, contou com presença do climatologista e coordenador do projeto Amazônia 4.0, Carlos Nobre; do Líder RAPS e senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP); do Líder RAPS Andrè Fraga, secretário de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência de Salvador (BA); e da presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi. A mediação foi da gerente do Programa Mudanças Climáticas do Instituto Arapyaú, Renata Piazzon.
Amazônia, clima e desenvolvimento sustentável
Carlos Nobre apresentou um panorama sobre a Amazônia em relação às questões climática e econômica. Para ele, estamos em um momento crítico para escolher o futuro que queremos para a floresta, que pode estar perto de um ponto de inflexão, com a ruptura do equilíbrio e um processo de savanização. “A nossa floresta está ficando seca. Isso não é uma previsão, é uma realidade”, afirmou.
De acordo com o climatologista, uma ação urgente é necessária para frear o desmatamento da Amazônia. “A saída para isso passa por soluções disruptivas, com a utilização de ciência e tecnologia para a emergência de uma economia de floresta em pé e um novo paradigma de desenvolvimento sustentável”, explicou. Para Nobre, além de reforçar a conservação e aumentar a eficiência da produção de commodities, é necessário combinar ativos biológicos e biométricos com a utilização da tecnologia da indústria 4.0. O potencial de bioeconomia inovadora está na biodiversidade da Amazônia, que já é utilizada de maneira sustentável em produções de açaí e cacau, em modelo que reforça o desenvolvimento econômico com fortes raízes locais.
Política, sustentabilidade e preservação ambiental
O senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) trouxe a perspectiva política para o debate e mostrou dados sobre o desmatamento no país. “De 1985 para cá, perdemos cerca de duas Alemanhas de biomas. A nossa taxa de perda bruta e líquida de floresta foi brutal”, declarou. Como solução, o Lìder RAPS apresentou o projeto de lei (PL 6230) que transforma as diretrizes estratégias do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal em política pública de âmbito nacional, estendida a todos os biomas.
O projeto tem como objetivo combater o desmatamento em todos os biomas e as emissões de gases estufa que eles provocam, com diagnóstico de perdas e soluções possíveis. A proposta prevê compensação financeira a municípios e acesso a crédito para empresas que desenvolverem atividades econômicas sustentáveis, além de aumento de pena para crimes ambientais. “A iniciativa é baseada em uma das melhores experiências que já se teve na história de redução do desmatamento na Amazônia, o PPCDAM, pacto setorial que contribuiu com a maior redução de emissões de CO2 no planeta e foi implementado entre 2004 e 2005 por Marina Silva”, explicou Randolfe Rodrigues.
Em outra perspectiva política em relação à sustentabilidade, André Fraga apresentou suas impressões enquanto secretário de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência de Salvador (BA). O Líder RAPS apresentou iniciativas realizadas na cidade, como o inventário de emissões de CO2 e ações na área de transporte e mobilidade, ações com a finalidade de aumentar a qualidade de vida da população. “É um grande desafio é conectar as pessoas à agenda climática na vida das pessoas. Elas precisam entender como essas mudanças afetam os seus cotidianos. Em Salvador temos trabalhado nessa questão de forma educativa e lúdica”, contou.
Produção econômica e conservação do planeta
Marina Grossi apresentou alguns pontos de vista sobre o papel da iniciativa privada nesse debate. Para ela, o desenvolvimento sustentável precisa ser uma ideia de país e envolver cidades, empresas e políticos com os mesmos objetivos.
“É preciso entender com clareza que a conservação do planeta e a produção econômica conseguem caminhar juntas. A agenda de mudanças do clima não uma questão ideológica, essa é uma pauta de todos. A gente ganha competitividade, empregos e outros avanços. Temos que nos unir em torno disso”, explicou a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
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