O segundo dia do curso Candidatos pela Sustentabilidade começou com a palestra de Rodrigo Lugones, mestre em Gerenciamento Político pela Universidade George Washington (EUA), especialista em comunicação direta, meios não tradicionais e estratégia política na Argentina.
Lugones alertou que não se deve tratar da mesma forma todos os meios de comunicação e todos os tipos de público. Para ele, o segredo está no que ele chama de “microssegmentação” do mercado e que isto se obtém por meio de uma base de dados de qualidade.
Rodrigo Lugones falou com exclusividade ao site da RAPS e destacou a importância de se buscar influenciadores na internet como estratégia de campanha eleitoral.
RAPS: Qual sua opinião sobre as campanhas eleitorais desenvolvidas no Brasil sob o ponto de vista de estratégias de comunicação?
LUGONES: A legislação eleitoral brasileira tem uma grande quantidade de regras que acabam definindo as campanhas, como a proibição da compra de espaços dos meios de comunicação para a utilização em campanhas eleitorais. Só podem ser usados os espaços que o Estado determina, no horário que o Estado determina e com base no resultado das eleições anteriores. Este é um sistema injusto, que prejudica os partidos pequenos, favorece os partidos grandes, principalmente o partido do Governo e não aponta para a renovação. Os pequenos partidos quase não podem usar a televisão ou o rádio e para vencer essa dificuldade, precisam ser muito criativos. O Brasil é um país muito criativo.
RAPS: E qual seria a saída para os pequenos partidos com pouco tempo para propaganda eleitoral no rádio e na televisão? A internet pode ser um caminho?
LUGONES: Depende muito se os eleitores têm ou não acesso à internet. Em São Paulo, por exemplo, grande parte da população tem acesso à internet, a população de 18 a 30 anos, praticamente toda ela está na internet e assim é fácil chegar a este público. Mas se eu quero chegar, por exemplo, à população com mais de 60 anos, não creio que a internet seja um bom caminho. Por outro lado, vamos pensar que os eleitores que eu quero atingir estejam na internet e todos acessem o Facebook. A segunda pergunta que faço é: no Brasil, as pessoas acreditam no que leem no Facebook? É importante procurar saber isso.
RAPS: Como é na Argentina?
LUGONES: Na Argentina, por exemplo, as pessoas não acreditam que é o candidato que escreve no Facebook. Sabem que são os assessores que fazem isso em nome do candidato. Os eleitores argentinos acreditam mais no Twitter do que no Facebook. Eles acham mais provável o candidato escrever no Twitter, ou seja, a credibilidade desta mídia social é maior. Portanto, não vale muito a pena dispender tanta energia numa ferramenta que não irá atingir nosso objetivo, que é conquistar a confiança do eleitor. É preciso conhecer muito bem o público que se quer atingir para definir qual o melhor caminho a ser escolhido.
RAPS: Na sua palestra, você menciona a importância dos influenciadores nas estratégias de comunicação. Você acha que os blogueiros são grandes influenciadores numa campanha eleitoral?
LUGONES: Vamos separar os conceitos de influente e influenciador . A teoria diz que num grupo de dez pessoas, uma delas é influente sobre as outras nove. É um cenário micro, onde todos nós somos influentes em algum tema em nosso círculo de amizade. E por que os blogueiros são importantes? Porque estes influentes no sentido micro leem os blogueiros e passam adiante a mensagem.
RAPS: São os influentes dos influentes?
LUGONES: Sim. São os influentes dos influentes numa rede sem fim. Hoje em dia, os blogs representam uma infinita fonte de informação e um espaço possível para a divulgação de ideias. Quem gosta de moda, por exemplo, sempre vai buscar informações nos blogs de moda e acabam retransmitindo estas informações para o seu grupo de amigos. Em pouco tempo, todos ficam sabendo o que está na moda.
RAPS: Com a política também é assim?
LUGONES: Sem dúvida. Por exemplo, neste momento em que o Brasil terá eleições municipais, dificilmente um candidato de partido pequeno ou que não está nos primeiros lugares nas pesquisas terá espaço nos veículos da grande imprensa, mas pode ter destaque num determinado blog que é lido por pessoas influentes em seu grupo. Estas pessoas buscam as informações em blogs específicos porque estão habituadas a encontrar ali o que lhes interessa. Certamente estas pessoas passarão a informação adiante em seu grupo de influência e podem representar importantes multiplicadores de votos. É por isso que a microssegmentação é importante quando pensamos em estratégia de comunicação eleitoral.
Veja a apresentação de Rodrigo Lugones clicando no arquivo anexo.
ESPECIALISTA ANALISA AS REDES SOCIAIS E OS INFLUENCIADORES NA CAMPANHA ELEITORAL
6 de março de 2013