O número de mulheres eleitas no Brasil é baixo. Pouco mais de 10% das cadeiras na Câmara Federal são ocupadas por mulheres, o que faz com que o país ocupe a 154º posição no ranking com 194 países sobre a presença feminina nas casas legislativas elaborado pela União Parlamentar, organização que reúne os parlamentos dos Estados soberanos.
O que lideranças políticas podem fazer para ampliar a participação da mulher na vida pública foi um dos temas das rodas de conversa realizadas durante o Módulo II de formação dos Líderes RAPS 2018, que aconteceu em São Paulo, entre 7 e 12 de maio.
O bate-papo foi conduzido por Mafoane Odara, Líder RAPS, e Nancy Thame, Empreendedora Cívica da RAPS e engenheira agrônoma que está em seu primeiro mandato como vereadora em Piracicaba.
Nancy contou sobre sua trajetória política. Filiada há décadas ao PSDB, ela já foi presidente do grupo de mulheres do partido em São Paulo, ocupou cargos de direção partidária, foi secretária municipal de meio ambiente, ajudou em diversas campanhas eleitorais, mas nunca havia sido candidata. Em 2016 resolveu disputar a vereança na sua cidade. Encontrou resistências internas ao próprio partido para conseguir uma vaga, já que a direção local não queria incluir mais mulheres na chapa além dos 30% exigidos na lei. Foi necessário que outra mulher cedesse o lugar na lista do partido para que ela concorresse.
A vereadora aconselha a todo candidato ou candidata definir um ou dois temas prioritários na sua campanha. “Mas as candidatas não podem deixar de levantar também a bandeira de empoderamento feminino”, defendeu.
Ela é favorável as cotas para mulheres, tanto no número de candidaturas como nos cargos de direção partidária, o que ela classifica como “correção de uma distorção histórica e social”. Nancy exemplifica com a questão do voto e dos diretos da mulher nas constituições brasileiras. “Em 1932, pela primeira vez as mulheres puderam votar, mas não todas, apenas aquelas autorizadas pelos maridos ou independentes financeiramente”, conta. Com a Constituição de 1946, todas as mulheres alfabetizadas puderam votar, mas apenas na Constituição de 1988 que a igualdade de diretos entre homens e mulheres tornou-se lei. “Ou seja, há pouco mais de 30 anos”, ressalta Nancy.
“A sociedade civil está à frente dos partidos em vários pontos, um dos exemplos é na questão de empoderamento feminino”, disse Nancy, lembrando que a cota de participação feminina nos cargos de direção, na maioria dos partidos, só foi conseguida após muita mobilização interna por parte das mulheres. “A sociedade muda com pressão. A vontade política nasce por pressão. Não por geração espontânea que as coisas mudam”, declarou.
Outro ponto tratado durante as rodas de conversa foi como um homem pode ajudar a combater a desigualdade de gênero, ou uma mulher branca pode contribuir na luta contra o racismo. Mafoane Odara acredita que isso é o papel da “empatia”. Ela não acredita que seja possível “se colocar na pele do outro”, como algumas pessoas definem esse conceito. “Empatia, eu defendo, é como o nosso lugar impacta o lugar do outro. E como seu impacto pode ser positivo”, explicou.
As Líderes RAPS que participaram das rodas de conversa listaram algumas sugestões de como os homens podem ajudar na questão da participação da mulher na política: escutar as sugestões das mulheres; apoiar projetos propostos por parlamentares do sexo feminino; contratar mulheres para seus gabinetes, inclusive em cargos mais altos como chefia de gabinete; e, se for concorrer neste ano para um cargo legislativo; buscar fazer “dobradas” com candidatas.
Modulo II de formação de Líderes RAPS
A segunda etapa do processo de capacitação dos líderes políticos RAPS de 2018 foi marcada pela presença do professor Steve Jarding, da Harvard Kennedy School, que apresentou painéis sobre formação de equipe, captação de recursos, orçamento, agenda e desenvolvimento da mensagem para campanhas eleitorais. Além dele, Kayo Amado comentou sobre sua experiência em campanhas de baixo orçamento; Ellen Aquino tratou dos riscos e oportunidades trazidos pelas mídias sociais nas eleições; já Juliana Barros, Zysman Neiman e Marcelo Furtado debateram sobre a conceituação e os desafios da sustentabilidade.
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