No caso do Brasil, sim. Pelo menos essa é a opinião do economista da saúde André Cezar Médici, do Banco Mundial, entrevistado pelo cientista político Sergio Fausto ontem (25.03), em transmissão realizada pela Fundação Fernando Henrique Cardoso.
O especialista lembra que o Covid-19 é um vírus com alto índice de transmissibilidade, o que explica sua rápida disseminação ao redor do mundo e, também justifica medidas mais duras de isolamento social adotadas por vários governos. Ele aponta que a adoção do lockdown (termo usado para se referir ao fechamento de fronteiras e restrição de circulação) funciona em dois contextos:
1. Como medida preventiva para regiões que ainda não foram afetadas, a exemplo do que algumas províncias italianas fizeram com sucesso e se mantiveram com poucos ou nenhum caso, apesar de o país ter se tornado o epicentro da doença
2. Quando não é mais possível rastrear o paciente que originou determinada cadeia de infecção, ou seja, quando a transmissão se torna comunitária – caso de todo o Brasil desde 20.3, conforme portaria do Ministério da Saúde.
Embora drásticas e dolorosas para a economia (de forma sentida no bolso de todos), tais medidas de isolamento social, fechamento de comércio, escolas e bloqueio de estradas e aeroportos são necessárias para achatar a curva de disseminação do vírus e garantir que o nosso sistema de saúde não sairá sobrecarregado.
Existem formas de diminuir a duração da quarentena e acelerar a volta à normalidade?
A boa notícia é que sim. Mas todas elas dependem do acesso rápido a informações precisas sobre a disseminação regional do vírus – e, nesse quesito, o Brasil está em uma das piores colocações mundiais.
Quando o poder público passa a ter acesso a informações sobre quais regiões e grupos sociais apresentam maior incidência de Covid-19, ações mais assertivas e trerritoriais passam a ser possíveis. O lockdown generalizado, como temos visto em cidades e estados brasileiros, se dá em parte exatamente pela ausência de informações segmentadas sobre a incidência do coronavírus.
A razão dessas informações serem escassas no Brasil é a nossa baixa capacidade de testes, como pode ser verificado no gráfico abaixo, produzido pela Our World in Data com base em reports fornecidos pelos países e entrevistas de autoridades sanitárias.
Até o dia 13 de março de 2020, o país tinha conseguido realizar pouco menos de 3 mil testes, enquanto em nações que têm sido referência no enfrentamento ao coronavírus, como a Coréia do Sul, esse número era 100 vezes maior. O problema é reflexo da falta de testes no Brasil, o que fez com que o Ministério da Saúde só autorizasse o teste em pacientes internados em hospitais e que apresentam os sintomas. Enquanto isso, milhares de pessoas com sintomas de coronavírus são enviadas de volta para casa sem realizarem o teste e, assim, acabam criando pontos cegos no mapa de focos de contaminação.
A iniciativa Brasil sem Corona, idealizada pelo Colab e pela Epitrack e que tem apoio institucional da RAPS, busca dar conta desse vazio de informações ao coletar, online, dados sobre os sintomas de brasileiros e enviá-los às autoridades sanitárias para que possam tomar decisões mais embasadas.
Ainda assim, André Cezar Médici defende que o país deveria investir fortemente na produção de mais testes – o que pode ser estimulado por medidas como reconversão industrial e incentivos fiscais, e parcerias com outros países.
Outra condição para acelerar a recuperação da normalidade, segundo Médici, é a ampliação do número de leitos disponíveis no país, para que possamos dar conta do pico da doença. Nesse sentido, a utilização de estruturas alternativas temporárias e parcerias público-privadas são ótimas práticas, aos moldes da medida tomada pela Prefeitura de São Paulo, que está construindo um hospital provisório no Estádio do Pacaembu em parceria com o hospital privado Albert Einstein.
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