“Um ano de Covid-19. O que aprendemos? Caminhos da Ciência e da Gestão Pública para superar a pandemia” é uma série especial da RAPS, que reuniu vários prefeitos para saber como cada um deles fez a diferença durante a pandemia. O prefeito Luiz Paulo (Progressistas – MG), 32, é um deles. Ele está à frente da cidade mineira de Curvelo, que tem 80 mil habitantes. Formado em administração pela Universidade Federal de Lavras, o Líder RAPS completou recentemente o marco de 100 dias de gestão.
Até 11 de abril, o município de Curvelo havia registrado 3.300 casos de Covid-19, 188 óbitos e 2.800 casos de recuperação. Em março ao menos 4 mil pessoas receberam a primeira dose da vacina. Abaixo, Paulo conta à Isabelle Rodrigues, coordenadora de projetos da RAPS as estratégias usadas para atender à população e manter a economia.
Editado por Valéria França
Isabelle Rodrigues: Como o senhor descreveria os 100 primeiros dias de gestão?
Luiz Paulo: Assumir a gestão de uma cidade implica em uma série de dificuldades, mas durante a pandemia o desafio é maior. Março e abril foram meses muito difíceis. Tivemos mais de 140 óbitos. A taxa de mortes no Brasil subiu muito e ampliou a faixa etária de vítimas. Cada vez mais vemos jovem morrendo. Estamos todos expostos, independentemente da idade e do estado de saúde, tem atletas e pessoas com comorbidades. Temos enfrentado tudo com muito trabalho e com foco na Saúde. Mas também avançamos em outras áreas, por exemplo, na questão digital e na transparência. Montamos comitê para desenvolver projetos importantes, aprovamos lei complementar de códigos de obra para melhorar. Também temos buscado muitas empresas para investimento. Há muita coisa em andamento, como obras de infraestrutura, que ainda nem conseguimos comunicar. A Covid tem tomado todo nosso tempo. Já estamos acima de 10 mil vacinados. Muitas pessoas estão loucas para serem vacinadas. Elas chegam na fila com muita esperança. Mas tem gente desesperada pensando quando chegará a vez dela. Curvelo é uma das cidades atingidas pelo desastre de Brumadinho e por isso receberemos investimentos de reparação. Estou trabalhando muito, mas à frente de algo, que me dá muito prazer.
IR: Curvelo é referência para outras dez cidades, que precisam de serviços de Saúde. Como tem sido o processo de comunicação e de conscientização?
LP: Temos um consórcio de municípios, Curvelo e mais 10 cidades ao redor, que somados dão 170 mil habitantes. É um grupo que dialoga muito. As medidas de prevenção são muito difíceis. Sempre conversamos com todos os prefeitos ao redor para tomarmos decisões. As cidades do consórcio são importantes no nosso crescimento. Ao mesmo tempo, elas agradecem por terem acesso ao polo de serviços, educação e saúde de Curvelo e retribuem ao município, colocando dinheiro, por exemplo, para aumentar o número de profissionais de saúde à disposição. O maior desafio mesmo é a imprevisibilidade. A gente não sabe o que vai acontecer. Não sabemos quantas doses vão chegar. No ano passado não foi necessário fechar o comércio. Mas no fim de janeiro, as coisas começaram a mudar. Na última semana de fevereiro, tínhamos 40 casos positivos. Em março, no período de 13 a 19 de, registramos 265 casos. O aumento de casos levou à cidade a entrar na onda roxa. Os números de casos foram caindo. No fim de abril, tínhamos 168 casos. Estávamos começando a melhorar a ponto de um dos hospitais propor fechar 5 UTIs. Caminhávamos para um estado de normalidade, o que daria chance para a equipe descansar um pouco. Mas passados 15 dias, dobramos o número de UTIs e enfermarias, adaptando salas. Tínhamos 20 enfermarias, chegamos a 60 em menos de um mês. As coisas acontecem muito rápido. A gente tem de confiar na ciência, fazer tudo com muita transparência e seguir em frente.
IR: Você acha que tem sido bem recebido?
LP: Os comerciantes, principalmente os menores, passam por muitas dificuldades. Muitos fecharam as portas. Queríamos ter um protocolo melhor. Mas o Brasil veio ladeira abaixo. O governo estadual pensa de um jeito e o federal de outro. Precisamos de unidade. Nessa quarentena, a média móvel de casos caiu de 55 para 15. Está muito difícil para eles cumprirem também. Fomos muito firmes no ano passado, em um momento que não era tão grave. Mas agora que os óbitos explodiram, as pessoas não aguentam mais. As pessoas procuram abrigo. Elas não se sentem representados por ninguém. Perdemos a unidade, mas passando isso, vamos conseguir trabalhar melhor.
IR: Não consigo imaginar o quanto de casos o senhor deve receber. Temos o registro da retomada da fome no Brasil. Quais foram as ações da Prefeitura? Também gostaria de saber se as iniciativas têm dado certo?
LP: É muito importante. Várias medidas foram tomadas no Brasil inteiro. Situação de leito é o básico. Algumas são importantes, mas a população não consegue nem sentir, que a administração é eficiente. Por exemplo, conseguimos aprovar rapidamente na Câmara uma legislação mais eficiente, que contribuiu nessa caminhada. Outro ponto importante foi a fiscalização. Quando assumimos, as denuncias, eram feitas por telefone, mas não era plantão de 24 horas. Não podemos dar aumento de função. Então resolvemos instalando o formulário on-line. Temos 37 fiscais. Hoje sabendo quais são as principais denúncias, fizemos um banco de dados. Mas temos muito a melhorar. Assim que chegam os formulários, eles são direcionados para a equipe. Outra coisa foi a transparência e a expansão do comitê da Covid. Passamos a transmitir as reuniões dele. No momento, temos de aceitar as críticas, porque as pessoas precisam e querem outra situação. Entendo isso. Mas fazemos o melhor possível.
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