Aconteceu na quinta-feira (28) o lançamento da Aliança pela Ação Climática – ACA Brasil, iniciativa que surge para mobilizar lideranças empresariais, investidores, autoridades locais e estaduais, acadêmicos, a imprensa, entidades religiosas, organizações da sociedade civil e a juventude como motores da ação climática no país. Mesmo que os compromissos apresentados pelos países sob o Acordo de Paris sejam implementados, as temperaturas deverão subir 3,2°C, muito acima da meta estabelecida de 1,5°C. Por isso, os esforços precisam aumentar e diversos atores são fundamentais nesse sentido.
Alianças pela Ação Climática (ACA) são coalizões nacionais dedicadas a empreender medidas sistematizadas e aumentar o apoio público no enfrentamento à emergência climática mundial. O objetivo é contribuir para que países cumpram o Acordo de Paris. O movimento existe em EUA, Vietnã, México, Argentina, Japão e África do Sul. No Brasil, a iniciativa conta com ICLEI, CDP, Centro Brasil no Clima, iCS, Frente Nacional de Prefeitos e WWF Brasil. A RAPS faz parte do Conselho Consultivo da organização.
Cássia Marques da Costa, gerente do Núcleo Político da RAPS, explicou que as alianças têm um caráter global já em sua origem, que remete ao momento pós-assinatura do Acordo de Paris e, sobretudo, à saída dos EUA do pacto. “Nesse contexto, o movimento subnacional nos EUA ganha muita força e reúne governos, empresas, academia, sociedade civil e outros atores para trabalhar pela agenda climática e a manutenção de compromissos como Acordo de Paris e Protocolo de Kyoto. As entidades subnacionais deixaram um recado claro: essa é uma agenda central, que importa, e nós vamos cumpri-la independentemente da posição do governo central. É nessa conjuntura que surge e atua a ACA, como desdobramento e potencialização de um movimento que já existia há um tempo”.
O papel da RAPS
Como instituição referência em sua área de atuação, a RAPS foi convidada a fazer parte do Conselho Consultivo da ACA. O colegiado deverá se reunir mensalmente para contribuir com ações e estratégias relacionadas aos temas centrais da iniciativa, transferência técnica e apoio a iniciativas de expansão, comunicação e engajamento.
“O convite para a RAPS integrar a ACA veio pelo fato de termos uma rede de lideranças políticas engajadas e comprometidas com a agenda da sustentabilidade e também por nossa atuação ter como prioridade estabelecer e inserir maiores compromissos e ambição climática na agenda política dos entes subnacionais. A presença da RAPS na ACA é um reconhecimento do nosso trabalho e da potência da nossa rede de lideranças políticas”, contou Cássia Marques da Costa.
Cássia também esclareceu que, uma vez estabelecida, a ACA vai mobilizar prefeitos e engajar prefeitos e governadores. No futuro, vereadores serão incluídos. A RAPS atuará nessa articulação. “Chefes dos executivos estaduais e municipais são os que irão assumir compromisso com a aliança. O acordo inclui ações como inventários de emissões, plano de ação climática, entre outras tarefas importantes para a agenda do clima”, informou. “A ACA oferece todo o suporte técnico necessário para a implementação das políticas por meio do apoio de organizações que compõe a iniciativa e são referências em suas áreas de atuação”, acrescentou.
Líderes RAPS em ação
O evento de lançamento teve moderação da jornalista Daniela Lerário e participações de especialistas na área de clima, governadores, prefeitos, empresários e representantes de outros setores da sociedade civil.
Líder RAPS e governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB-ES) destacou que os governadores precisam debater a questão climática e tem muito o que apresentar e fazer nesse tema. Ele também disse que caberia ao governo federal ser o protagonista desse trabalho, mas que diante da inação e do negacionismo, iniciativas como a ACA e demais articulações subnacionais precisam assumir a agenda do clima. “Temos que cumprir uma série de ações do Acordo de Paris e não podemos depender só do governo federal. Só uma articulação forte como essa pode incentivar outros estados a se mobilizarem, assim como o Espírito Santo, para articular ações nessa área. Essa grande aliança é a oportunidade que nós temos”, afirmou.
Para Edvaldo Nogueira (PDT-SE), Líder RAPS e prefeito de Aracaju (SE), o século 21 é o século das cidades, que têm um papel muito importante na agenda climática. “Mesmo com todo esforço mundial, que produziu resultados importantes, não foi possível termos os resultados necessários e urgentes que a humanidade precisa. Está faltando que os municípios entrem nesse jogo. As teses, os discursos e as formulações genéricas têm que ter estados e nações envolvidos, mas a aplicação prática para que as cidades se tornem mais resilientes e melhores dependerá muito da ação municipal. Fico feliz de participar da ACA porque os municípios serão o polo mais importante para a execução prática”, opinou.
O protagonismo brasileiro na ação climática
O Brasil sempre foi reconhecido mundialmente como liderança no enfrentamento à mudança do clima, tanto como conciliador quanto como protagonista em busca de consensos para a ação climática. Porém, nos últimos anos esse protagonismo se perdeu, e precisa ser retomado. O país é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo e precisa construir um novo modelo de desenvolvimento, de modo a aproveitar a enorme biodiversidade territorial e a maior área de floresta tropical do planeta.
No painel de abertura do lançamento da ACA, Gonzalo Muñoz, High Level Climate Action Champion da COP 25, declarou: “precisamos aumentar a nossa ambição climática”. Ele complementou que a situação hoje é realmente dramática, mas as oportunidades são enormes e passam por seguir as indicações da ciência e entender que não é só resolver o problema, é preciso prevenir e atuar antecipadamente. “Precisamos aproveitar a ACA para incrementar a participação do Brasil nesse movimento global. É uma iniciativa absolutamente fundamental, que vai aumentar a diversidade na comunidade climática global”, assegurou.
Suzana Khan, vice-diretora da Coppe (UFRJ), afirmou que não faz sentido o Brasil virar as costas para a agenda do clima, uma vez que tem condições de liderar o novo modelo de desenvolvimento. “O nosso ativo ambiental poderia nos fazer ter uma nova industrialização. Poderíamos ser uma potência ambiental. E não somos isso, não estamos nos preparando para isso, para a nova economia. Se tiver aumento de temperatura acima de 1,5°C, vai ser muito ruim para o Brasil. A nossa biodiversidade e os recursos hídricos serão impactados. Estaremos acabando com o que poderia nos fazer estar em um novo patamar”, disse.
Assista ao evento de lançamento.
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