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A PÁTRIA ACORDOU!

19 de junho de 2013

Fernando Rei
 
As manifestações populares que tomaram as ruas de capitais e grandes cidades brasileiras são uma absoluta novidade numa sociedade tida como adormecida, passiva e conformista nos últimos vinte anos. Tida como encantada por conquistas de poder de consumo patrocinadas pelo governo federal, a classe média ampla e facetada resolve reagir diante de um cenário de fortes ameaças de perdas dessas conquistas, diante da incapacidade da área econômica do governo de controlar uma inflação que voltou e que dá sinais de que veio para sangrar.
Perplexos, os governos municipal, estadual e federal observam atônitos e revelam a sua absoluta incapacidade de lidar com o fenômeno popular, talvez pelo entorno burocrático em que se escoram e pela real distância que os três níveis de governo mantém com a população, uma vez que a classe política de há muito que já não representa e nem em sintonia está com o clamor popular.
O “vem para a rua vem” funciona como uma autêntica convocatória a esse gigante que ainda permanece adormecido, pois há muito temor pelas conseqüências que poderão advir, e, certamente, pela ignorância de aleijadas minorias que vandalizam a festa popular, porque não sabem e não querem a democracia nas ruas. Tanto é assim que alguns meios da imprensa demoraram a perceber que a manchete estava nas ruas e que seus editoriais precisavam de imediata revisão, que a indústria do futebol Fifa merece rechaço.
Na organização horizontal e em rede do movimento há uma profunda sensação de descontentamento e de repúdio a esse falso Brasil vitorioso e imune às crises internacionais que apenas “os diversos poderes” conhecem. O Brasil real é um país imperfeito, que avançou, mas que reclama decência.
Não somos um país “quase do Primeiro Mundo”, as conquistas sociais alardeadas não estão consolidadas, a classe política que governa o País ignora o efeito pedagógico do bom exemplo numa jovem democracia, sem compromisso ético e sem efetividade no combate à corrupção. Somos penta sim! Mas já não queremos ser o país do futebol! Não temos um projeto de país para “dar certo”, temos o discurso hipócrita, oportunista e de conveniência para enaltecer conquistas pontuais. O pacto federativo está mais forte nas ruas que nas instituições.
Essa gente brasileira que ocupa as ruas está cansada de esperar, de conviver com o descontrole com o dinheiro público, com a gastança, com a corrupção e com o descaso na qualidade dos serviços públicos essenciais.
Não se sabe e não se pode dizer aonde as manifestações pacíficas querem chegar, nem quando deixarão as ruas, mas hoje isso não importa. O que importa é o caminho, a decisão de percorrê-lo, de deixar claro que essa trajetória iluminada não é a mesma de instâncias de poder.
Está claro que querem o fim desse país ainda injusto, ineficiente, que alimenta uma oligarquia partidária amarrada aos porões imundos do nepotismo e da barganha.
As ruas querem outro país, um Brasil grande nas oportunidades, grande em sua infraestrutura e nas conquistas sociais, grande na qualidade dos serviços públicos, grande nos valores da cidadania, grande nos compromissos éticos e na cidadania.
Oxalá tenha chegado a hora de renovar o processo político e melhorar a qualidade da democracia brasileira por meio de novos líderes, comprometidos com os valores e princípios da ética e transparência, do fomento à democracia participativa e do fortalecimento institucional da agenda da sustentabilidade visando à construção de um Brasil mais justo, próspero, solidário, democrático e sustentável.
Quem acordou na verdade, foi a Pátria.
 
 
Fernando Cardozo Fernandes Rei é professor associado do Programa de Doutorado em Direito Ambiental Internacional da Universidade Católica de Santos (Unisantos) e professor-titular de Direito Ambiental da Faculdade de Direito de Direito da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Direito Internacional do Meio Ambiente (SBDIMA). Foi por duas vezes presidente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e Integrante do Conselho Diretor da RAPS

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