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Debate sobre capital natural aborda cooperação entre ciência e sociedade

9 de maio de 2016

matéria_CapitalNatural“Caracterização do Capital Natural Brasileiro” foi o tema do terceiro evento de uma série de quatro encontros, promovido pelo Eixo Temático Biodiversidade e Uso dos Recursos Naturais. O encontro aconteceu no dia 03/05 na sede da RAPS, em São Paulo, e contou com a coordenação de Roberto Waack, presidente da AMATA Brasil. Foram convidados para o debate o diretor de Gestão Territorial Inteligente da Agroicone, Arnaldo Carneiro Filho, e o professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, Gerd Sparovek.
Um dos temas predominantes na discussão foi como a ciência está contribuindo no cenário de preservação do chamado capital natural do país. De acordo com um dos documentos norteadores da série, “o conceito de capital natural pode ser entendido como a somatória de todos os benefícios que os ecossistemas equilibrados fornecem ao ser humano, dos mais tangíveis, como água potável, alimento e madeira, aos mais abstratos, como o valor espiritual e cultural que os ambientes naturais representam para diversas comunidades”.
Sobre esse aspecto, Sparovek apontou, como exemplo, a participação dos cientistas na elaboração do novo Código Florestal. O professor avalia, contudo, essa participação como tardia e, de certo modo, arrogante:  “a ciência entrou nesse processo, na minha opinião, com arrogância. Achando que sua verdade, por ter sido criada pelo método científico, fosse mais verdadeira do que as outras verdades criadas fora do universo científico”, opinou.
Ainda falando sobre o papel da ciência nesse processo, Arnaldo Carneiro Filho argumentou que há a necessidade de um maior compartilhamento de informações. Carneiro sublinhou que o Terceiro Setor, muitas vezes, tem atuação mais significativa que a academia. Já para Sparovek, o ponto de partida dessa discussão está na geração de conhecimento que precisa ser colocado a serviço da sociedade e não simplesmente enclausurá-lo no ambiente das universidades.
O colaborador da RAPS, Zysman Neiman, também contribuiu com o debate. Para Neiman o grande problema é que boa parte dos pesquisadores se ausenta de sua função social no país, fechando-se numa ótica ensimesmada. “Nós pesquisadores, muitas vezes, não damos atenção ao nosso próprio papel social. Nós também somos cidadãos e poderíamos representar a sociedade dentro das universidades. A nossa produção acadêmica não está pautada pela resolução de problemas sociais, mas está fechada em si mesma, numa visão muito equivocada sobre qual seria de fato seu papel”, explicou.
Por outro lado, Sparovek ponderou que no âmbito científico há uma razoável liberdade de atuação, se comparado com a maioria das organizações civis. “A maior parte da pesquisa feita na academia tem uma liberdade maior de atuação do que numa instituição que dependa de fundos e captações específicas, por exemplo”, argumentou. O que foi mais consensual entre os dois convidados foi que ciência e sociedade civil devem trabalhar em conjunto, cada uma dando sua contribuição específica, em vista da preservação do capital natural.
O moderador do debate, Roberto Waack, salientou que, além da cooperação entre ciência e sociedade, é importante criar uma agenda de produção de conhecimento geopolítico que dê suporte à preservação desse capital. “A RAPS tem um papel muito importante na formação de lideranças políticas, de pessoas que atuam no campo político. Essa conexão entre a geopolítica e o desenvolvimento do conhecimento, num país que tem o capital natural como o nosso, é central”, concluiu Waack dando destaque à importância da organização nesse cenário.

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