Em entrevista exclusiva à RAPS, Reguffe explicou porque abriu mão de benefícios e verbas de gabinete e falou sobre a crise do governo Dilma
Aos 42 anos, o senador José Antonio Reguffe (PDT-DF) tem se destacado no cenário político por radicalizar em suas posturas éticas ao dispensar benefícios e privilégios próprios do cargo, como salários extras e verbas indenizatórias.
Em visita a São Paulo para participar do Seminário de Apresentação e Integração de Jovens RAPS no dia 28 de março, Reguffe, que faz parte da turma de Líderes 2015, concedeu a seguinte entrevista ao site da RAPS.
RAPS: Desde quando se elegeu deputado federal, em 2010, o senhor abriu mão de salários extras e reduziu sua cota de gabinete. Eleito senador, o senhor tomou medidas semelhantes. Quais foram elas?
REGUFFE: No meu primeiro dia como senador, abri mão dos salários extras (um no início e um no fim da legislatura), reduzi a verba de gabinete e o número de assessores de 55 para 12. Além disso, dispensei a verba indenizatória, o carro oficial, combustível, plano de saúde vitalício para o senador e seus familiares e fiz a opção formal por continuar contribuindo para o INSS, abrindo mão da aposentadoria especial de parlamentar.
RAPS: O que isso representa em termos de economia para os cofres públicos?
REGUFFE: Representa uma economia direta de 16 milhões e 700 mil reais. Se esta economia fosse repetida pelos demais 80 senadores, isto representaria de mais de 1,3 bilhão de reais aos cofres públicos. E de forma indireta, podemos acrescentar nesta conta a economia com os encargos sociais dos funcionários não contratados. Todas essas medidas foram tomadas em caráter irrevogável.
RAPS: Então um mandato de senador não precisa custar o que custa hoje?
REGUFFE: A tese que eu defendo e que pratico em meu gabinete é que o mandato parlamentar pode ser de qualidade custando bem menos para o contribuinte do que ele custa hoje. Não existe democracia sem poder legislativo forte e atuante, mas para ele poder ser forte e atuante não precisa ser gordo e inchado como é hoje. Isto não se consegue apenas com palavras, mas com ações. Estou fazendo a minha parte e honrando o compromisso que assumi com as pessoas que votaram em mim.
RAPS: Seu gabinete trabalha com uma estrutura bem enxuta, enquanto que a maioria dos parlamentares acha que precisariam de mais assessores para dar conta de todas as demandas. Como consegue isso?
REGUFFE: Dá para atender perfeitamente. Um parlamentar não pode fazer do gabinete uma ‘estatização de cabos eleitorais’. Ele tem que ter uma assessoria técnica competente que lhe permita fazer um mandato qualificado.
RAPS: O Sr. foi um dos signatários do ofício enviado à presidente Dilma Roussef pedindo o veto do aumento do valor do fundo partidário. Por que?
REGUFFE: Considero revoltante a decisão do Congresso Nacional de triplicar o valor do fundo partidário. Eu acho que isso nem deveria existir. Aumentar o valor do fundo partidário é um desrespeito, um tapa na cara do contribuinte brasileiro. Espero que a presidente tenha sensibilidade e pense no contribuinte e não em agradar aos caciques partidários.
RAPS: Qual sua avaliação sobre o governo Dilma? O há de negativo e de positivo neste governo?
REGUFFE: O ponto principal é que o país vive uma crise política e econômica sem precedentes. Há um escândalo de corrupção como nunca houve na história do Brasil e não é só Petrobrás, é BNDES, fundos de pensão. Há também a crise econômica com uma inflação galopante e o aumento do dólar gera uma inflação no ponto futuro, ou seja, vai ser ainda maior até o final do ano. Como ponto positivo do governo Dilma, assim como do governo Lula, foram os programas sociais. Agora, isso não justifica o escândalo de corrupção que o país está enfrentando e não justifica a resposta que o governo está dando para a crise econômica. O governo tinha que cortar despesas, se preocupar em ser mais eficiente, qualificar melhor o seu gasto e não descontar no contribuinte aumentando alíquota de impostos ou criando impostos. Isso não é correto, é inaceitável.
RAPS: Na sua opinião, o que significaram as manifestações de março deste ano?
REGUFFE: Uma grande revolta com o governo que faz política da mesma forma que os governos anteriores, construindo sua base parlamentar calcada no ‘toma lá, dá cá’, ao oferecer ministérios e secretarias em troca de voto no parlamento. Além disso, há uma revolta também com a situação econômica. As redes sociais permitem que a população tenha mais informação sobre o governo e é positivo que a sociedade vá para as ruas protestar. Ruim seria se a população visse as coisas erradas e não reagisse a isso. Desde que seja de forma pacífica, com equilíbrio e sem violência, isto é algo extremamente positivo.
RAPS: Se o Sr. pudesse dar uma dica para a presidente Dilma sair da crise política, o que diria a ela?
REGUFFE: Preocupe-se menos em agradar os políticos e os partidos e mais em fazer o que é correto e necessário para a população. Um governo deve ter como objetivo o interesse da sociedade, do contribuinte. A extrema preocupação em agradar sua base aliada faz com a presidente Dilma perca cada vez mais o respeito da sociedade.
RAPS: Como o Sr. vê a atuação da RAPS de abrir espaço e empreender na formação e capacitação de novas lideranças políticas?
REGUFFE: É importante promover um espaço onde se pode reunir pessoas bem intencionadas que queiram construir um país diferente, socialmente mais justo, eticamente mais responsável e ambientalmente sustentável. A RAPS inova e está sendo vanguarda na discussão destes problemas que afetam o cidadão brasileiro.
Senador Reguffe defende mandatos com menor custo para o país
8 de abril de 2015