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EDITORIAL- AS RUAS E A RESSIGNIFICAÇÃO DA POLÍTICA

25 de julho de 2013

AS RUAS E A RESSIGNIFICAÇÃO DA POLÍTICA
As manifestações que tomaram as ruas nos últimos meses são um divisor de águas na história recente do Brasil e têm sido pauta constante de debates na imprensa, nos governos, nas casas legislativas, nas universidades, nas empresas, nas filas, nas famílias, nas esquinas…
Este fenômeno social de caráter espontâneo revela, no mínimo, o descontentamento com a perda do poder de compra dos salários, com a gastança do dinheiro público, com a impunidade e a corrupção, com o descaso na qualidade dos serviços públicos essenciais e, fundamentalmente, uma crise de representatividade no país e o fracasso da política e das instituições políticas em promover o desenvolvimento humano, a liberdade e a dignidade das pessoas.
Já em 2011 havia fortes evidências do descontentamento da população para com as instituições do país. Tal insatisfação já se refletia no 47° lugar do Brasil no ranking do Índice de Democracia, compilado pela revista The Economist, que avalia a qualidade da democracia em 160 países considerando cinco categorias gerais (processo eleitoral, pluralismo, liberdades civis, funcionamento do governo, participação política e cultura política). O Brasil, tido como uma democracia imperfeita, encontrava-se atrás de países como Cabo Verde (27º) e mesmo de Timor Leste (42º), que conquistou sua independência apenas em 1999.
A pesquisa apontou que os brasileiros julgam a cultura política insuficiente e que a população fica alheia aos processos de decisão política dos diferentes níveis de governo, em um país caracterizado pela percepção de que há pouca transparência e prestação de contas por parte das autoridades.
As implicações deste cenário são nefastas ao desenvolvimento do país, dado que a qualidade e o bom funcionamento de um sistema democrático estão em grande parte atrelados ao envolvimento dos cidadãos nas instituições e na vida política de seu país.
O paradoxo do Brasil – presença de crescimento econômico convivendo com baixo desenvolvimento humano e alta desigualdade – tem outras implicações além da exclusão de parcela significava da população da prosperidade econômica. Segundo a CEPAL, a desigualdade socioeconômica tem o efeito de enfraquecer a democracia. Em outras palavras, “a igualdade transforma a dignidade e o bem-estar dos indivíduos em um valor irredutível, articula a vida democrática com a justiça social, vincula o acesso e as oportunidades com uma cidadania efetiva e deste modo fortalece o sentido de pertencimento” (CEPAL. 2010. “A hora da Igualdade: brechas por fechar, caminhos por abrir”).
Portanto, há indícios de que a grande mobilização das últimas semanas aponta para um maior engajamento dos brasileiros na política e de sua valorização. Neste novo contexto, renova-se a convicção de que a constituição e o desenvolvimento das atividades da RAPS não apenas dialoga com a necessidade de aprimorar o processo político e a democracia brasileira mas também se constitui num veículo do exercício da cidadania e da expansão das experiências democráticas às mais diversas situações sociais. É a política, e seu resgate e ressignificação, o instrumento adequado para a busca do bem-estar coletivo e da felicidade dos seres humanos.
Neste sentido, a RAPS pretende não apenas acompanhar os debates mas, principalmente, através de suas atividades e da plataforma RAPS 2.0, estimular a discussão em sua rede e contribuir para a melhoria do processo político e da qualidade da democracia no Brasil.
Marcos Vinícius de Campos – Diretor Executivo da RAPS

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